11 de jun. de 2011

7 - AETERNUM




O dia virá em que a linha, como uma risada interrompida,
ficará inconclusa. Por escrever.
Mas  nesse dia nada ficará diferente.
Não mudará o espaço,  que continuará vago
-como sempre o estará  o espaço dos poetas, disponível-
e que, apesar disso,  continuará a estar cheio,
porque jamais poderia estar doutra forma
aquilo que a própria ausência enche  e enuncia.


E o que  sobrar  na memória dos outros,
capaz de merecer uma citação concreta, reproduzível,
uma frase lapidar que ilustre bem uma situação,
ou que claramente aponte um norte,
será tão importante quanto esse espaço de ser  imutável,
que nada jamais  alterou, a que nada dará fim
e que nenhum fim terminará.


E se nada chegar a esse ponto,
de mudar aos olhos dos outros;
se houver apenas uma vaga sensação de falta,
de coisa indefinível  que o quotidiano crú apagará,
haverá  ainda a memória daqueles que um dia,
pelo breve  tempo encantado de um poema,
voaram mais alto e viram o mundo com outros olhos
-e souberam que ser Poeta é ter uma outra voz,
e sentir sob uma outra forma de consciência.
Que é imortal, mesmo no silêncio.


Um comentário:

  1. ET CAETERA





    Desculpa a pressa com que penso
    nos milímetros marginais do verso
    e, como cão farejando antigos mijos,
    dissimule o cio enquanto ponho as asas no poema.

    Desculpa a obsessão pelo tutano das palavras,
    mesmo as bem nascidas e cuidadas
    como os seixos mais polidos.

    Desculpa a caligrafia e a gramática,
    sempre tão dorsais e tão patéticas.


    Abraço
    João

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