21 de abr. de 2012

41 - ? COMO NO ?





?Como no?
Claro que las escuchas
a esas voces que sonan memórias de montaña!
Que hablan de las causas más profundas de los relevos
al quebraren la indulgencia monocórdica de las mañanas,
tan derramadas por las planuras de los campos
en oro de pan y cielos de puro azul...

? Se no las escucharas, como podrias saber
que hay gritos de verde en las memorias de las piedras
anidadas en los suelos de nuestros camiños,
y que el tiempo es su aliado, cuando las acaricia y desgasta,
y las reduce al polvo donde, sin fecha marcada,
firmamos echos en pisadas y plantios?

( ?No es eso que es vivir ?
Decidir a toda hora
se los camiños se cumplen en pasos,
o se son los pasos que se cumplen en camiños? )

5/12/2009


(foto: António Mendes )

16 de abr. de 2012

40 - ONDE DEIXEI DE IR


Não me surpreendo por não ter sido ontem,
nem anteontem, nem por esses dias,
que essa memória  se  afastou de mim
e se aninhou em algum canto onde deixei de ir.

Surpreendo-me nessa descoberta simples,
mas tão...tão trágica, dramática, quase obscena,
de haver em mim – inimagináveis -
cantos  recônditos, onde deixei de ir.

Profundos, e impossíveis de localizar
sem um gatilho que temerariamente 
mos apontasse,
como um dedo nodoso, e feio. 
Acusativo e predisposto a um drama 
ortopédico. Voilá...

Ou então descobertos assim, singelamente,
num arrulho de pomba-surpresa flanando.
Sons de ar revolvido  ao pousar na chegada,
num ciciar prazenteiro de penas,
e aquele arfar hesitante, questionável,
que ainda não entendi 
se vem de todas as coisas  
antes de acontecerem  realmente,
ou  se vem  de dentro de mim,
murmurando-lhes  boas vindas,
ao revê-las mais uma vez...

5 de abr. de 2012

39 - NINGUNA PALABRA DE AMOR




Ninguna palabra de amor
puede ser más que una improvisación.
En todas nos recreamos
como amores antiguos, renaciendo.
Y en todas nos sepultamos
como tristezas nuevas, muriendo.


Por eso amamos con entusiasmo, ávidamente,
porque no hay más formas de amar que así:
- amando, como si amar no fuera
más que una finalidad en sí misma,
un extremo a qué apuntar,
un norte fuera de una brújula
extraviada de su función...

Amamos porque la alternativa no existe,
y amar es mucho más dulce que apenas ser
- sin gracia, sin cielo, sin pájaros accidentales,
todo descubierto en un instante insospechado
que no existiría una hora antes,
simplemente por no haber palabras para amar...
-y el amor también ser hecho de palabras.



original em espanhol
improviso ocorrido no chat Cafe y Poesia do site Poetastrabajando.com em 1.4.2012

1 de abr. de 2012

38 - BOLA DE SABÃO


Caminhava pela vida normal afora
quando  percebi  toda a mentira...

Então corri depressa para o Café, sentei-me,
e deixei que se instalasse completamente
essa campânula transparente de isolamento  elástico
que ainda não tinha visto antes,
e que,  em mim,  não passava de uma suspeita
-mas que realmente nos cerca, etérea,
roçando-nos em suave evanescência,
quase brilhante como uma bola de sabão.
Ou que nos envolve  como uma aura,
para os mais místicos.
Que nos acompanha os gestos, 
e permite tocar, cumprimentar,
sem inibir o tato, a carícia, o gesto intimo...
Mas que nos separa dos outros, tão cansados,
tão previsíveis, tão solitários em grupo...
- e tão fora da bola de sabão.

Foi assim que olhei a cidade e os passantes.
Pela primeira vez  com esses  novos olhos, 
preparados para ver bolas de sabão.

Não...
O sabor do café não mudou!


29 de mar. de 2012

37 - OLVIDO



Não foram apenas raios, acontecendo.
Coriscos,  na soturnidade cinza dos dias...

Foram dedos cravando-se com ternura
nas montanhas túrgidas, ás vezes tão longe...
- outras tão perto como um respirar comum !

Cravando-se na simplicidade curvilínea das suas encostas,
empinadas como seios ,ante um beijo assim,
espasmódico e secreto, poderoso e inaceitável.

Rasgando as brumas quase inefáveis das lagoas
expondo-se, nuas,  metálicas,  ao luar azul
-quais territórios cúmplices,  em noturno desabrochar.

Lendo no solo os códigos primevos ,
vencendo ritos de passagem, e explorando todos
os caminhos secretos para chegar lá...

Lá, onde, passando por  entre cascatas de palavras,
que o tempo decompunha  em dourada  garoa fina,
e gestos  avassaladores, repetindo-se  vez após vez,

num raro milagre de acasos que não há,
o espírito essencial  do barro primevo
moldava-se e revelava a forma  que nos compõe.

Cipós subiram enredados pelos pulsos, improváveis
como veias pulsando o verde do acaso profundo,
tocado, transacional, absolutamente coerente...

Estabeleceu-se  uma outra estética  mais primordial, feita de alma.
E um outro ato plástico, ansiado sem chegar,
tornou-se quase visível e quase tátil

-na insubstancia  dessas mãos  descruzadas,
uma primeiro, posta para o lado, dedos nos dedos,
olhos invadindo olhos irreversivelmente,

depois a outra mão em total despojo, oferta  arfada,
harpejo. Sim.  Ferro, sim.  Desafio incandescente,
impondo-se de surpresa, interminável, impossível,

e novamente a surpresa, impedindo o grito da surpresa,
a surpresa subjugada, mas insustentável de manter,
e  por  fim  o grito rasgado,  expulso, vitorioso

Gritos em fôlego de lua, manto de magia, um após outro,
e fogueiras  de medos e pudores, e  prazeres puros,
e delícias, ah as delícias... finalmente!...E olvido.

Olvido .
Tremores. Tremores e cores !
E  um cheiro acridoce de  infinito...






(03-2012)

19 de fev. de 2012

36 - AO LADO




Um dia cheguei,
e já fui estranhando os detalhes,
ao meu redor.
Eram as mesmas coisas,
mas numa outra luz,
com sombras estranhas,
do lado errado.
Como se tivesse
mudado de rua,
ao virar da esquina,
para uma outra que nunca foi,
e me visse, agora,
a caminho de outra praça,
onde outros pombos teimosos
caminhassem acenando que sim,
como sempre fazem
aos pés de monumentos anônimos
e vagos.
Demorei-me nos pormenores
e nas trivialidades mais banais,
até me reencontrar
e recuperar os passos de casa,
para me instalar nos gestos velhos
dos antigos confortos,
onde me esqueço de tudo.
Chegado, estranhei-me
apenas a mim...    






(JUN-2007 )        

35 - DES MOTS D'AMOUR


Há aquelas palavras
com que escrevemos o mundo,
e o pintamos nas cores
do nosso entendimento.
Com elas nos afirmamos,
em frases que deixamos feitas,
e, com elas, nos saudamos,
em imensos sorrisos gramaticais.
Com elas esculpimos memórias,
perpetuadas em elegâncias de pedra eterna,
ou eternizamos glórias e conquistas,
a vermelho, sobre aço brilhante.
Há também as palavras duras,
com que repreendemos,
mais do que escrevemos,
tudo o que não cabe nas palavras esperadas,
em respostas a perguntas que ninguém fez.
Com elas limitamos territórios,
com cercas-vivas, e avisos
de coisas proibidas,
sinalizando vontades...
Com todas as palavras
escrevemos a vida, inevitávelmente,
ás vezes até com as não ditas,
usando pausas e silêncios
tornados significativos.
E há as palavras de amor...
As que se escrevem sózinhas,
em doces mistérios
de palavras-dadas,
e vidas empenhadas
em percursos paralelos.
Há outras, envolventes,
brincando de esconde-esconde,
e assim revelando intenções,
em negaças permanentes.
E há as que apenas  traduzem
momentos especiais,
e tão singulares sentimentos
que, com elas, despertamos paixões
e palavras iguais.
Todos falamos todas as palavras.
Tantas, que já nem escutamos mais...

( JUN-2007 )