16 de abr. de 2012

40 - ONDE DEIXEI DE IR


Não me surpreendo por não ter sido ontem,
nem anteontem, nem por esses dias,
que essa memória  se  afastou de mim
e se aninhou em algum canto onde deixei de ir.

Surpreendo-me nessa descoberta simples,
mas tão...tão trágica, dramática, quase obscena,
de haver em mim – inimagináveis -
cantos  recônditos, onde deixei de ir.

Profundos, e impossíveis de localizar
sem um gatilho que temerariamente 
mos apontasse,
como um dedo nodoso, e feio. 
Acusativo e predisposto a um drama 
ortopédico. Voilá...

Ou então descobertos assim, singelamente,
num arrulho de pomba-surpresa flanando.
Sons de ar revolvido  ao pousar na chegada,
num ciciar prazenteiro de penas,
e aquele arfar hesitante, questionável,
que ainda não entendi 
se vem de todas as coisas  
antes de acontecerem  realmente,
ou  se vem  de dentro de mim,
murmurando-lhes  boas vindas,
ao revê-las mais uma vez...

2 comentários:

  1. Meu caro Henrique,

    prazer revê-lo nas minhas páginas "blogueiras", obrigado pelas suas palavras.

    Esse seu texto aqui é magistralmente reflexivo. Com efeito, o ser humano se interessa mais pelo visual de fora, mas se esquece de conhecer suas paisagens interiores. As imagens da última estrofe são memoráveis, bem dentro desse seu estilo único de falar de coisas complexas porém de maneira simples, quase informal.

    Um belo texto, Henrique, meus parabéns!

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  2. Meu amigo Henrique,

    às vezes nos surpreendem os barulhos que se guardaram silentes em recônditos, que até então nos pareceram inacessíveis e eles chegam aos nossos ouvidos, assim quase que sorrateiramente, mas são tão sutis que mesmo que os tenhamos ouvido um dia, talvez não os tenhamos percebido. Então fica esta sensação de não sabermos se já aconteceram antes ou não, assim como você concluiu em seu magnífico texto. Um texto para ler e reler com prazer renovado.
    Um abraço, amigo.
    Celêdian

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