Naquele limite onde o tempo se rasga
e a vida fica algo estranha,
e todos os valores cedem um pouco,
se acomodam e ajustam
com aquele som de pano puído
que finalmente se esgaça,
abdica da complexidade objetiva da trama
e se reduz a fios soltos.
Isolados, são fios também,
mas não são mais aquela rede colorida
onde sonhei adolescências
em tantas tardes de calor inquieto.
Isolados, não me darão nunca mais
aquele balanço ocasional,
sem ritmo nem persistência,
que um calcanhar esquecido no chão
imprimia esporádicamente.
Isolados, são apenas fios
retomando a sua identidade própria,
mas meros detalhes, afinal, duma história
que só juntos poderiam contar:
a minha história, de mim.
Isolados, são como palavras desconexas,
que não formam frases.
Que, no máximo, soam à saudade
duma rede balançando em
tarde quente...
(foto colhida na net, sem créditos )
REAL MENTE
ResponderExcluirSento-me.
Sinto-me sem sentido.
Procuro adormecer
na sombra que me persegue.
Repouso ali,
deleitado ao sol,
na minha sombra
obesa, submissa, original.
Tenho esperança
que o sono apareça
(é o que penso)
- apanhas sol na cabeça, faz-te mal
Com um forte abraço
João
Olá, Henrique,
ResponderExcluirperdoe-me só agora poder retribuir as suas simpáticas visitas e comentários, mas é que eu não tinha, até então, podido ter acesso a seus blogs.
Estou descobrindo belos textos aqui, sobretudo este, onde os paralelos entre vida e tecido estão magistralmente alinhavados. Vou por este seu blog na minha lista, assim saberei sempre quando houver um texto novo.
Voltarei mais vezes, tem muita coisa boa a ser descoberta por aqui.
Um grande abraço,
André
Henrique,
ResponderExcluirPerfeita analogia entre os fios da trama da vida e os fios que se entrelaçam no tecido, que quando puído, desenlaçam-se e abre-se no espaço, o vão, o vazio e se unem apenas pelos elos rudimentares, aqueles que atam as pontas, mas que tornam longo o caminho entre elas.
Maravilhoso poema, meu prezado amigo Henrique.
Um abraço,
Celêdian