Do outro lado do vidro,  o cinzento dos dias 
e aquela fumaça lenta das castanhas assadas, misturados,
perduravam  entre os
prédios adormecidos às centenas,
como se fossem um todo. Parecia mais, até,
um liquido transparente fumado
que alguém houvesse derramado
no mundo,
e parecia haver um
perigo real em abrir a janela, 
deixar  entrar tudo
isso, e ficar afogado em algo
que seria o contrário de imensidão…
Por isso enfrentávamos a vida de mãos dadas,
com  essas interrogações
nos olhos vagos de Poetas
-olhos que um dia exibimos 
em plena ingenuidade, 
enquanto deambulávamos pelo mundo intrépidos, 
como quem tem sede  de
ser sempre mais horizonte, 
em  promessas de
eternidade com detalhamentos
feitos de dedos entrelaçados nas fibras das almas.
Corríamos depois  das  aulas 
até ao barracão de madeira, antigo,
onde desmontávamos o tempo amando-nos em pé, e
olhando o mundo pela janela das traseiras, lá de cima, 
num arrepio de espaços.
De braços abertos ao abismo frágil do vidro, desafiantes, 
amávamo-nos lentamente sorrindo das teias de aranha
que se nos emaranhavam nos cabelos, e no medo.
E ríamos de nós,  e dos
que não olhavam para o alto nunca.
Noutros dias, corríamos de outra coisa qualquer,
por qualquer outra razão, e o frio apenas se aproximava,
e não era mais que uma promessa, como nós,
porque trajávamos já o futuro, e éramos felizes,
e tínhamos nos olhos o beneplácito de Deus
e aquela espécie de 
pureza única das consciências  
que nunca ninguém interrogou…
E ainda era  só
Outubro !
(foto colhida na net, de autoria desconhecida )
(foto colhida na net, de autoria desconhecida )

Ah, cuánta belleza encerrada en tu prosa. Gracias por permitirnos leerte querido y admirado Poeta.
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