O
meu rio
conta
a minha história,
em
frases líquidas
por
águas murmuradas...
Sempre
para aqui corri,
quando
correr podia,
aqui
disse, quando voz havia,
e
fluí, quando rio eu era,
para
este lugar singelo,
único
e tão belo,
onde
paro e me sento,
em
suave espera,
escutando
o lento
remanso
do meu ser.
É
aqui que soam
os
cânticos sagrados
das
raízes molhadas,
suportando
secas
e
antecipando flores,
luminosidades
e odores...
E
aqui ecoa também,
em
rancoroso desdém,
as
voz das plantas dobradas
em
vénias de sobrevivência,
caçoando
do vento
em
suas maleitas.
Elas
dizem-me dos murmúrios surdos,
que
são os protestos das pedras insatisfeitas
crescendo,
no seu lento progredir
para
se tornarem pedras...
Aqui
eu escuto falas de vozes doces
no
toque dos sinos,
tão
alegres,
e
rumores dos secretos destinos
das
lagoas distantes,
onde
subtis acasos levaram amantes
que
nelas turvaram luas,
de
fadas que dançaram nuas
e,
virgens,
afogaram
febres...
Daqui
me vejo, a passar,
nessas
águas sem fim
-
imagens esboçadas de mim,
fluidos
momentos,
dores,
renascimentos,
uma
história
em
outras histórias,
um
tempo,
em
outros tempos...
Daqui
me vejo, nessas águas
das
minhas memórias,
onde,
juntos, nadam cansaços e falhas,
solidões
consentidas,
e
restos de outras vidas
flutuando
em cada pedaço.
Dores,
nas redes de finas malhas
com
que pesco
e
me repesco,
nas
linhas com que me traço.
Em
outras curvas
do
meu rio,
houve
dias
em
que ganhei brios,
e
me espalhei entre rochedos,
espumando
vontades turvas,
agitando
lodos e medos,
só
para morrer
em
escarpadas margens frias,
em
gelados desencantos.
Nas
águas do meu rio,
também
passam os meus prantos.
copyrighthenriquemendes texto e foto
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