23 de dez. de 2015

117 - PERPETUANDO-SE



Um dia decidi levar-te, Poeta, aos lugares onde se passaram  histórias das quais  já mal me lembro. Clareiras de luz diferente no meio do bosque que, entretanto, se agigantou em tons de verde pardo e tapetes espessos de caruma  antiga.

Terias apenas de descobrir os gestos de acariciar as pedras que os Poetas acariciam, tão conformes às suas mãos tacteantes, sensoriais.

Terias apenas de enfiar-lhes os dedos por baixo do musgo, aos poucos, em carícias cada vez mais íntima, até lhes sentires nas palmas das mãos os formatos arredondados, e te maravilhares tu também com o calor suave emanando delas, em secretíssimos prazeres.

Darias voz ao mutismo das sombras das árvores, que até aí dançavam só para mim. E mais brilho às lágrimas de resina com que ocasionalmente as árvores se traíam por entre a rude casca, em emoções de árvores, dissimulando a sua humanidade.

Quis levar-te e partilhar contigo momentos especiais. Talvez exibir-me um pouco. Talvez, ufano,  quisesse que me visses terminar de crescer, e fosses testemunha de um novo caminho, iniciando-se.

Só não esperava ser incapaz de surpreender-te, novamente. De ouvir-te as mesmas palavras como látegos, sibilando até me atingirem a alma com a fremência das coisas, num paroxismo particular dos sentidos.

De permanecermos dependentes e paralelos, depois de tudo, - dentro do acordo que um dia criamos juntos, e ao qual, um outro dia, eu daria um fim. Acordo do qual hoje desisto.

Sigamos, pois. Juntos, sim!

Nas mesmas veias, na mesma verve. No mesmo eco do Tempo…


(Tempo…Tempo…Tempo…) reverberado entre palavras de rocha viva…


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