Um
dia decidi levar-te, poeta, aos lugares onde se passaram histórias das quais já mal me lembro. Clareiras de luz diferente
no meio de um bosque que, entretanto, se agigantou em tons de verde pardo e tapetes
espessos de caruma antiga.
Terias
apenas de descobrir os gestos de acariciar as pedras que os poetas acariciam,
tão conformes às suas mãos veementes. Terias
apenas de enfiar-lhes os dedos por baixo do musgo, aos poucos, em carícias cada
vez mais íntimas, até lhes sentires nas palmas os formatos arredondados,
e te maravilhares tu também com o calor suave que delas emana, em secretíssimos
prazeres.
Darias
voz ao mutismo das sombras das árvores, que até aí dançavam só para mim. E mais
brilho às lágrimas de resina com que ocasionalmente se traiem, por entre
a rude casca, em emoções de árvores, mal dissimulando a sua humanidade.
Quis
levar-te e partilhar contigo momentos especiais. E talvez exibir-me um pouco.
Talvez, ufano, quisesse que me visses
terminar de crescer, e fosses testemunha de um novo caminho, iniciando-se.
Só
não esperava ser incapaz de continuar a surpreender-te. De te ver sabedor das minhas descobertas.
De
ouvir-te em palavras, como látegos, sibilando até me atingirem a alma com
a fremência das coisas, num paroxismo que me é tão peculiar e, ao mesmo tempo, tão instigante aos sentidos, ditas, as coisas apenas minhas- os guardados de tanto tempo.
De assim permanecermos dependentes e paralelos, depois de tudo, depois de tanto - dentro do mesmo acordo que
um dia celebramos juntos, crentes que, algum outro dia, lhe daríamos um fim. Ou talvez não.
Esqueci-me que tinha desistido.
Esqueci-me que tinha desistido.
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