22 de jun. de 2012

50 - DUELANDO


( dedicado ao outro, que também sou )




Às vezes, escreves palavras de amor
como se fosse fácil.
Como se não houvesse maiores dificuldades
do que abrir as asas e sair voando alto,
ascendendo rumo ao sol...
Como se fosse possível, assim,
num instante único e de supremo alcance,
pintar em cores felizes
esses quadros que partilhamos,
quando encostamos as testas ao espelho
e reconhecemos no outro, do lado de lá,
as fomes que nos fazem sede,
e as dores com que nos fustigamos.


Às vezes, escreves palavras de amor
como se não soubesses outras,
e, em purezas primordiais,
não tivesses já gravado anseios
em rabiscos de criança, pelas paredes
e nos muros do meu jardim...
E como se não houvesse um preço,
a pagar por todo e qualquer começo,
por todas as coisas iniciadas
sem um rumo definido,
como se fossem um balão mal inflado,
que alguém tentasse encher de beleza,
e que brilha por um momento apenas,
antes de estourar...


Às vezes, escreves palavras de amor
como quem esgrime duais combates
em passos de bailarino,
e gravas na carne dos outros,
em volteios virtuosos
e finos traços de florete,
palavras capazes de furar armaduras,
e derramar sangues...


Às vezes, até escreves palavras de amor
como quem ama, simplesmente,
e despertas-me vontades de , um dia,
apenas pelo tempo de um único dia,
marcado o momento e o espaço,
separarmos as mentes,
desencostarmos as testas
em rígida trégua de vontades,
e vermos o que cada um seria,
olhando o espelho,
a coragem versus a imagem,
e com que armas o enfrentaria...
- se floretes, se sabres ...


14/6/2007

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