18 de jun. de 2012
49 - VIBRATO
É mais complicado que tudo isso...
Mais que apenas o olho, ser o vento,
o cisco, a lágrima,
o sal no trilho aberto em selvas de barba...
Mais que apenas as mãos em gestos,
pontuando formas e sentires de momentos
escritos em entardeceres boreais, perpetuando-se...
ser as carícias táteis, buscando ainda,
talvez para sempre, os cálidos vestígios da intimidade única,
do instante insubstituível da chegada.
Mais que toques transacionais, gentis, contando histórias
onde as palavras são apenas artifícios evocando brilhos escuros
nos olhares, doutra forma esquecidos de si.
Preciso ser mais. Sempre precisei ser mais.
Tenho de ser a sílaba,
que encontras e reconheces entre palavras tuas.
A pausa que antecipa o sorriso por acontecer,
quando me tornas teu.
O tom colorido, na frase monocórdica,
com que me retomas ao desinteresse
com que me perdi no teu olhar...
Preciso ser mais,
por isso nunca serei completamente teu,
nem meu...
Por isso nunca haverá nada
que eu possa ser completamente.
Nem sequer apenas um pedaço de mim.
Maio/2010
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Um texto que li e reli e, tenho certeza, ainda relerei muitas vezes. Ele possui esse ritmo orgânico, natural, que favorece a reflexão, o sopesar dos sentidos, os significados de cada verso, de cada colocação. Certas estrofes são magníficas, assim como as imagens evocadas, as construções sintáticas para a idéia, o leitmotif. A consciência da incompletude, não obstante a incessante, febril busca em tentar supri-la. A incompletude, mais do que a idéia mesmo da carência, é esse motor que sempre impulsionou todo poeta, todo artista, à criação. Essa busca do vago, do indizível, talvez, porém, oh que repleta de significados que ela é!
ResponderExcluirUma tapeçaria muito bem urdida, efectivamente, na qual os fios do mais poético lirismo se entremeiam aos da mais profunda sabedoria.
No marasmo estéril de conteúdo dos textos que assolam a esfera das letras virtuais, ler esse teu "Vibrato", meu amigo Henrique, é como alcançar, finalmente, a sombra de um oásis encantador após a longa travessia de um deserto árido e escaldante. Virei sempre reler esse tão sublime texto, meu amigo. Obrigado pela partilha.
Meu forte abraço.
Meu caro amigo Henrique,
ResponderExcluirCuriosamente, este foi o primeiro texto seu que li, ainda no site Poetastrabajando, assim que ingressei lá. E foi também através dele, que descobro o grande poeta que você é. E é com muito prazer que o releio agora. Como bem disse o nosso amigo André, é realmente sublime este texto.
Há tanto de nós que desconhecemos, que mesmo na busca incessante do nosso completo conhecimento, escapa-nos entre os dedos, a percepção das nossas minudências. Penso que melhor é não decifrá-las todas, pois há sempre um sabor novo nas descobertas, que nos impulsiona a buscar mais e assim evita-se a monotonia de sermos previsíveis.
Um grande abraço, amigo.
Celêdian