Escolho
olhar para cima e ver a chuva.
Ver os pingos nascidos do nada
crescerem a caminho dos meus olhos
até me atingirem a pele
numa mistura tridimensional
de imagem insólita,
som pressentido
e toque disseminado, frio.
Escolho
não lhe fugir porque molha,
não lhe fugir porque molha,
não procurar abrigo,
não evadir a carícia
a que nunca me dou,
não temer consequências
nem incómodos.
Escolho
só retomar o caminho depois,
saturados os sentidos
e inebriada a alma
dos prazeres simples
do instante esculpido
para todo um sempre
feito dos amanhãs que houver.
Escolho
rever-me só depois,
de dentro, ascendente e leve,
sentindo as forças voltarem
e retomarem-me a vontade,
a poesia voltando a tomar posse,
as mãos reiniciando velhos gestos
e o espírito abrindo-se
ao caminho errático
das outras formas de ver o mundo.
Escolho
os anos sem idade
e as horas como sorrisos alegres
entre pensamentos.
Escolho-me,
como se pudesse não ser assim.
Escolho-me,
como se pudesse não ser assim.
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