Um dia decidi levar-te, Poeta,
aos lugares onde se passaram
histórias
das quais mal me lembro.
Clareiras de luz diferente no meio
do bosque,
que entretanto se agigantou em tons de verde pardo
e tapetes espessos de caruma antiga.
Terias apenas de descobrir os gestos
de acariciar as pedras que os Poetas
acariciam,
tão comuns às suas mãos tacteantes,
sensoriais.
Terias apenas de enfiar-lhes os
dedos por debaixo do musgo,
aos poucos, em carícias cada vez
mais íntimas ,
até lhes sentires nas palmas das
mãos os formatos arredondados ,
e te maravilhares tu também com o
calor suave emanando delas,
em secretíssimos prazeres.
Darias voz ao mutismo das sombras
das árvores,
que até aí dançavam só para mim.
E mais brilho às lágrimas de resina
com que ocasionalmente as árvores se
traíam
por entre a rude casca, em emoções
de árvores
dissimulando a sua humanidade.
Quis levar-te e partilhar contigo
momentos especiais…
Talvez exibir-me um pouco. Talvez,
ufano, quisesse
que me visses terminar de crescer, e
fosses testemunha
de um novo caminho iniciando-se.
Só não esperava ser capaz de
surpreender-te novamente.
De ouvir-te as mesmas palavras como
látegos,
sibilando até me atingirem a alma
com a fremencia das coisas
num paroxismo particular dos
sentidos.
De permanecermos dependentes e
paralelos,
depois de tudo,
dentro do acordo que criámos juntos,
ao qual um outro dia daria um fim
do qual hoje desisto.
Sigamos pois juntos, sim! Nas mesmas
veias, na mesma verve,
no mesmo eco do Tempo ( Tempo… Tempo…
Tempo… )
reverberado entre palavras
de rocha viva.copyrightHenriqueMendes/2017
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