5 de set. de 2015

112 - MONTANHA




Talvez não inventemos a montanha antes.
Ou talvez ela não exista.

Talvez nem haja,
entre o cume e a nossa vontade,
um caminho maior que os primeiros passos,
de entre tantos ascendendo sempre.

E todos eles sob o encantamento
desse ritmo atávico da estrada longa,
inescapável, e a perseguição errática
das folhas perdidas  pelos outonos
que nos acompanham.
( Ou, quem sabe, dos dois, movendo-se
lânguidos,  numa orgia lenta
de divindades estranhas.)

Ou então não passam de restos, apenas,
poeiras e folhas, ou memórias e momentos,
brisas e coisas assim mais simples
e sem graça mais profunda,
como frutos de acasos
e porque sim’s.

E do caminho nascido dos passos andando,
do cume ermo e estreito,
agora sem subida e sem momento,
nem paisagem que não seja de descida,
talvez não precisemos  mais
do que o mero tempo
para um gesto vago, de adeus.

Mesmo que não tenha importância
para que lado o aceno acontece, ou a quê,  
ou a quem, ou qual a história perdida,
tão frágil e única, que fica por contar.
Ou que outra, subindo a montanha,
tecemos em fios de ouro e fiapos de sonhos
maiores que as nuvens amarelas
dos desertos sem pegadas nem limites…


Um comentário:

  1. Magnífico, amigo Henrique.
    Muitas vezes esses momentos de desencanto são como um mergulho...mas temos de voltar sempre, aspirar de novo o ar e viver!

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