Chego sem saber que aqui estavas,
cansado do meu dia,
sabendo-me descrente de tudo
o que não seja dormir.
Quando entro no quarto,
e um resto de sol coado em cortina
te revela derramada sobre a cama,
avermelhada, dourada,
renasço em outros humores,
mas com a certeza de estares dormindo.
Dou por mim imaginando banhos,
agitando martinis, acendendo velas
para um jantar de vinho e queijos,
à média luz.
Dou por mim pensando no que fazer,
enquanto me vou despindo
para te surpreender, e te dar
o despertar libertino, memorável,
que adormeceste esperando.
E tu ali, nua sobre a cama,
em total ignorância de mim
e do agito que matou o meu cansaço,
pareces-me subitamente frágil,
pequenina, mais garota travessa
que mulher ladina...
- quase inocente !
De seios esmagados contra o colchão,
ganhas novas curvas e relevos,
e as tuas nádegas, nessa posição,
sobre o lençol escuro e brilhante,
eternizam-se como numa pintura antiga,
e gritam-me chicotadas aos sentidos.
Chego mais perto,
ainda sacudindo um resto de roupa,
ainda sacudindo um resto de roupa,
para um beijo quase casto, sobre os
cabelos,
numa quase-esperança de que despertes,
e me poupes o remorso de te acordar.
Beijo-te suavemente, cheirando-te,
enquanto te viras e me olhas
por um momento, sem me veres,
já de regresso ao teu soninho gostoso.
E nesse olhar, que foi tão rápido,
brilharam estrelas escuras, só para mim,
prometendo prazeres e loucuras
que a fadiga da espera apenas adiou.
No teu sono, ainda me aguardas
- sem saberes que já cheguei.
E que te amo, pelas promessas
que fizeste, sem saberes que fazias...
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