Não foram apenas raios, acontecendo.
Coriscos, na
soturnidade cinza dos dias...
Foram dedos cravando-se com ternura
nas montanhas túrgidas, ás vezes tão longe...
- outras tão perto como um respirar comum !
Cravando-se na simplicidade curvilínea das suas encostas,
empinadas como seios ,ante
um beijo assim,
espasmódico e secreto, poderoso e inaceitável.
Rasgando as brumas quase inefáveis das lagoas
expondo-se, nuas, metálicas,
ao luar azul
-quais territórios cúmplices, em noturno desabrochar.
Lendo no solo os códigos primevos ,
vencendo ritos de passagem, e explorando todos
os caminhos secretos para chegar lá...
Lá, onde, passando por entre cascatas de palavras,
que o tempo decompunha em dourada
garoa fina,
e gestos avassaladores,
repetindo-se vez após vez,
num raro milagre de
acasos que não há,
o espírito essencial
do barro primevo
moldava-se e revelava a forma que nos compõe.
Cipós subiram enredados pelos pulsos, improváveis
como veias pulsando o verde do acaso profundo,
tocado, transacional, absolutamente coerente...
Estabeleceu-se uma
outra estética mais primordial, feita de
alma.
E um outro ato plástico, ansiado sem chegar,
tornou-se quase visível e quase tátil
-na insubstancia dessas mãos
descruzadas,
uma primeiro, posta para o lado, dedos nos dedos,
olhos invadindo olhos irreversivelmente,
depois a outra mão em total despojo, oferta arfada,
harpejo. Sim. Ferro,
sim. Desafio incandescente,
impondo-se de surpresa, interminável, impossível,
e novamente a surpresa, impedindo o grito da surpresa,
a surpresa subjugada, mas insustentável de manter,
e por fim o
grito rasgado, expulso, vitorioso
Gritos em fôlego de lua, manto de magia, um após outro,
e fogueiras de medos
e pudores, e prazeres puros,
e delícias, ah as delícias... finalmente!...E olvido.
Olvido .
Tremores. Tremores e cores !
E um cheiro acridoce
de infinito...
(03-2012)
(03-2012)
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