Tento escutar, escuto como se fosse um grito,
esse sentimento represado no abandono
com que nos entregamos a cada dia que começa.
( quantos já matamos a tiros, à bruta, desnecessariamente,
desses fins de noite que são, afinal,
apenas promessas de novas manhãs...?)
Mas apenas os passos ficam mais audíveis,
nisso que podiam ser carícias, e são apenas solas
conformando-se à pedra áspera do momento.
Nelas houvesse o encanto, que deve compor as manhãs,
e não aquele esfarelar de tempo cru,
por entre dedos descuidados...
Nelas se dissesse baixinho, quase só com a mente,
uma prece agradecendo o cheiro do pão,
e os risos nos olhos, antes de rir.
Nelas as pedras não esquecessem,
afastadas do pó,
as memórias dos caminhos...
(Agosto 2009 )
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