Não aquela coisa agridoce.
Não apenas isso a que uma palavra veio dar substância,
em olores de exclusividade lusa e inclemente.
Mas a fome na alma, enfática,
o buraco negro perseverante, chato,
que me vem reordenando os sentidos e
resignificando gestos que eram livres,
e agora já não são...
Nas memórias, sobrenadam nadas,
coisas hoje sem aplicação, de menino.
( Vista da cama, a ponta do ramo do pessegueiro
nasce na janela, fininha, só com três folhas.
Não pode comigo. Não posso descer .
Em baixo há arame farpado.
E ao longe o mar azul nos meus olhos castanhos,
gritando distância. )
Nas vontades,
misturam-se sabores de momentos espalhados,
como pérolas correndo soltas pelo soalho.
Querer mergulharoutra vez junto ás rochas,
lá onde as ondas mentem trajetórias de espuma
( E como é salgado o sangue, mesmo no mar...).
Nos remorso, empoeirado embora,
escutar sem apelo o queixume subterrâneo de um chão
que pouco me viu fazer,
e o ciúme dos passos que espalhei de mim pelo mundo
como se fossem palavras num papel.
Gotas de tinta, transformando-se em linhas,
erráticas, somando-se até serem um eu concreto,
crescente, pesado de manter.
Nas alegrias, desnudando-me de valores,
sentir sobre mim a luz suave dessa benção maior
de ser assim, sentir as coisas, vibrar com elas,
até saber-lhes as histórias e os caminhos.
E na dor, a memória vívida de tudo quanto é bom
cruzando-me o peito ...
Como uma cicatriz.
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