No último momento das ondas
há uma voz baixinha,
um pouco arquejante pelos cansaços
do mar em vastidões,
que subitamente se escuta
como se se libertasse numa única palavra
lançada à praia, que se solta
e existe solta apenas até
que o leve chiado da espuma na areia
a disfarce e dissipe.
Às vezes nem se entende,
em outras não há quem a escute, mas
a palavra é “saudade”, e quando chega a ser
já sobreviveu a ondas e tempestades,
a ventos, correntes e contratempos.
Soa em momentos frágeis e únicos,
apenas uns instantes logo disfarçados de outros,
roucamente, quase um acaso feliz, e traz
um quase nada da força que as ondas têm.
Mas a vida é assim, um ir e voltar
de ondas em circunstâncias de acaso,
com as quais nem sempre é possível
marcar encontros para ouvir-lhes a voz.
Sabemos que é assim, mas também
que na praia sempre haverá alguém,
com vento nos cabelos
e olhos estreitados ao horizonte,
lendo um mar que não é seu,
e que nem seria mar se o fosse,
e que é salgado por conter lágrimas
mas que também é doce, por ser fortuito...
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