2 de jun. de 2021

184 - NO ÚLTIMO MOMENTO DAS ONDAS




No último momento das ondas

há uma voz baixinha,

um pouco arquejante pelos cansaços

do mar em vastidões,

que subitamente se escuta

como se se libertasse numa única palavra

lançada à praia, que se solta

e existe solta apenas até

que o leve chiado da espuma na areia

a disfarce e dissipe.


Às vezes nem se entende,

em outras não há quem a escute, mas

a palavra é “saudade”, e quando chega a ser

já sobreviveu a ondas e tempestades,

a ventos, correntes e contratempos.


Soa em momentos frágeis e únicos,

apenas uns instantes logo disfarçados de outros,

roucamente, quase um acaso feliz, e traz

um quase nada da força que as ondas têm.


Mas a vida é assim, um ir e voltar

de ondas em circunstâncias de acaso,

com as quais nem sempre é possível

marcar encontros para ouvir-lhes a voz.


Sabemos que é assim, mas também

que na praia sempre haverá alguém,

com vento nos cabelos

e olhos estreitados ao horizonte,

lendo um mar que não é seu,

e que nem seria mar se o fosse,

e que é salgado por conter lágrimas

mas que também é doce, por ser fortuito...



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