9 de jul. de 2019

176 - A SURPRESA DE HOJE



Hoje, espelho-me em instantes.

Talvez nem me ache nos ecos
daqueles passos
com que um dia cruzei ruas
que nunca esqueci.


Talvez não me encontre, surpreso,
nas páginas cujos cantos dobrei,
há muito tempo,
sem poder imaginar que um dia
elas me apontariam esse mesmo
dedo cúmplice que  hoje lhes aponto, virando-as, saboreando-lhes detalhes e segredos em vagares maiores.



Talvez nem me reveja nas linhas
que atirei a um papel qualquer,
de tantos papéis  ao acaso
no decorrer de uma vida,
sem saber que viriam a dizer de mim
mais do que eu poderia contar.

Talvez nem possa desmontar
as camadas de tempo que se somaram
como crostas em feridas na alma,
nem os medos que se dissiparam
em solidões tranquilas,
ou em urgências que, afinal,
tinham tempo, e espaço, e tudo...

Talvez o que tenha sobrado
de tudo o que foi, ou poderia ser,
tenham sido as escolhas.
As mais profundas,
construídas duma amálgama
feita de vontade misturada
com um fado antigo, forte e
impossível de evitar.

Hoje é o dia, afinal,
que o ontem ainda não saberia ser.


copyrightHenriqueMendes10/07/2019

3 comentários:

  1. Tetrato de muitas vidas.gostei.

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  2. Tal vez he quedado sorprendida por la poesía rítmica de tus pensamientos. Gracias querido y admirado Poeta por compartir tu arte con nos.

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