12 de abr. de 2015

106 - AS TRÊS PÉROLAS ( en português + español )




As montanhas, tão escarpadas, e os longos caminhos subindo sempre, tão cheios de perigos, faziam com que os povos daquelas aldeias na base da montanha, bem pertinho do mar, tendo sustento fácil  nas águas e na terra plana, simplesmente não subissem até lá acima.

Às vezes encontravam-se com as gentes lá do alto, quando viajavam por mar até às outras aldeias que ficavam do lado de lá da ilha e da grande montanha, para onde era fácil aos que viviam lá em cima descer quando queriam.

Mas no resto do tempo, viviam nas suas aldeias, tranquilamente. Olhando para cima, viam a grande lua no céu, magnífica, e na sua simplicidade achavam que era uma grande pérola. E erguiam para ela os seus olhos e os seus pensamentos, fascinados com tanta beleza, e fantasiavam como deveria ser maravilhoso viver num lugar tão alto, mas tão alto, que a pérola nunca se escondesse por detrás de nenhuma montanha. Esse era o sonho de todos.

E que bela era, aquela pérola. Que enorme e que preciosa. Todos gostariam de tê-la, mas todos sabiam também como era impossível. Sabiam que lá no alto da montanha estariam mais perto, poderiam vê-la durante toda a noite, mas ainda assim não conseguiriam chegar-lhe.

Então, em algum momento que já ninguém saberia precisar, começaram a surgir uns rumores sobre a existência de uma outra grande pérola escondida na selva, numa clareira mágica onde havia um pequeno lago. E as gentes lá do alto da montanha abeiravam-se do imenso precipício para vê-la brilhar cá em baixo, por entre as árvores.
E foi assim que, aos poucos, alguns buscaram descobrir o caminho  até essa clareira na selva, onde havia um lago com uma pérola bastante menor, mas que podia ser alcançada.

Podia ver-se, nos olhos de quem adentrava o bosque assim tão profundamente, uma espécie de reverência crescente que já dizia tudo, e que ia aumentando com a compreensão de que esse lugar, onde ia chegando, tinha algo de sagrado.

E  na entrada da clareira, perante aquele raio de luz crua onde oscilavam sugestões de todos os tipos, cintilando ora em brilhos de estrelas, ora em pó de fadas, olhavam para cima e viam-no rasgar a penumbra verde-folhagem  do lugar e cair precisamente sobre o pequeno lago de águas transparentes, revelando, enorme e enigmática sobre a areia alva do fundo, uma magnífica pérola em repouso.

Talvez não houvesse em nenhum outro lugar uma luz assim, que tão bem revelasse a perfeição daquela pérola singular, evidenciada de uma tal forma, com tal pureza, que tudo mais se recolhia a um segundo plano, como se servisse apenas para acolchoar, como num estojo, o lugar onde ela se exibia em seu fantástico repouso.

Era enorme e singela, e estava ali, apenas, sobre a areia muito fina e pura do fundo do pequeno lago, cujas águas frias nada jamais parecia perturbar.  Não havia vento ou folhas errantes, nem poeira buscando outros caminhos, ou sequer um pequeno animal  sedento… Nada jamais fazia estremecer a sua superfície, ou diminuir a sua transparência.

O lugar era antigo, e cheio de lendas, e poucos eram os que conseguiam alcançá-lo, mesmo os que se dispunham a caminhar longas horas pela  floresta muito densa, tentando seguir trilhas praticamente invisíveis.

Mas mesmo pelo caminho, olhando em redor, era possível ir descobrindo vestígios da presença de outros. A vegetação ganhava um tom de verde um pouco mais dourado e, discreta, escondia pequenos objectos um pouco por toda a parte.  

Aqui eram potes de barro, com tampa, muito ornamentados. Pratos com o que pareciam ser restos de oferendas. Pequenas caixas. Mais além uma pequena flauta de osso. Pequenas candeias de óleo, agora apagadas. Moedas. Algumas joias. Algumas das coisas eram nitidamente muito antigas.

Dizia-se que, mesmo nas noites mais escuras, havia na clareira aquele brilho especial, como o da pérola no lago, mas isso ninguém conhecido poderia garantir. E que esse brilho aparecia nos olhos daqueles destinados a conhecer a pérola no lago, e também nos olhos dos apaixonados quando se julgam a sós e ficam pensam na pessoa amada. Não sei.

O velho pescador de pérolas, muito pobre, ainda estava abrindo algumas ostras com a faca, agachado no fundo do seu barco encostado ao meu, no final da tarde que já corria para a noite, enquanto me contava esta história antiga.

Dizia-me que a escutara pela primeira vez do seu bisavô. E de vez em quando olhava para terra. Não para o céu, como eu esperaria, mas para um ponto no meio da mata, junto à base da montanha. Olhei também, mas não chegou a ser um brilho o que vi, e durou apenas um momento. Assim mesmo, chegou para me fazer interromper o que estava perguntando, e ele percebeu.

- Você também viu, agora mesmo, não foi ? – e riu-se desdentado, uma risadinha cúmplice e longa. – Lá do alto da montanha, olhando para baixo também se vê, às vezes, pelo meio das árvores. E é uma pérola grande, garanto. Uma vez, eu fui lá acima de propósito para ver…

Surpreendido, tudo o que consegui foi interrogá-lo.

- Então é verdade, tudo o que dizem ?- perguntei, olhando para ele.

Ele encarou-me sempre sorrindo, enquanto respondia. Entretanto ficara quase noite, e o seu sorriso era mais largo. Nos seus olhos, duas pérolas agora brilhavam olhando para mim.


- Meu filho, eu sou só um velho ignorante que apanha pérolas. Escolhi não viver lá em cima, porque não aguentava estar tão perto e não alcançar a maior de todas elas. E depois, não quis ficar numa dessas aldeias na base da montanha, e viver correndo atrás dum brilho na selva, onde os caminhos mudam constantemente de lugar,  e onde  alguns  homens se perdem para sempre. 

Fez uma pequena pausa, algo emocionado. Depois continuou:

-Por isso vivo na praia, e neste  barquinho. E tenho todas as três pérolas ao mesmo tempo: - Tenho aquela gigante, lá em cima, que a montanha esconde depois de um tempo. Tenho a outra, que a selva  abriga no lago, e que às vezes brilha para mim um sorriso rápido por entre a escuridão da mata, como você viu também, há pouquinho. E tenho estas pequenitas – mostrou uma, erguendo a mão - que as ostras me vão oferecendo, uma de cada vez, e que para mim não valem quase nada…

12.04.2015


                                                   En español: Las Tres Perlas


Las montañas, muy escarpadas y los largos caminos subiendo siempre, tan llenos de peligros,  hacían que las gentes de aquellos pueblos al pie de la montaña, tan cerca al mar, teniendo sustento fácil en las aguas y en la tierra plana, simplemente no subiesen hasta arriba.
A veces  se encontraban con las otras gentes que vivían en lo alto, cuando viajaban  por mar hasta los otros pueblos que quedaban del otro lado de la isla y de la gran montaña, para donde era sencillo a los que vivian arriba descender cuando querían.
Pero todo el tiempo restante, vivían en sus pueblitos, tranquilamente. Mirando arriba, veían la gran luna en el cielo, magnífica, y en su sencillez creían que era una gran perla. Y levantaban hacia ella sus ojos y sus pensamientos y sueños, fascinados con tanta belleza, y tejían fantasías  sobre cómo debería ser maravilloso vivir en un lugar así tan alto, pero tan alto, que la perla jamás se escondiese por detrás de ninguna montaña. Ese era el sueño de todos.
Y que bella era, aquella perla. Qué enorme y qué preciosa. A todos les gustaría tenerla, pero todos sabían que eso era imposible. Sabían que en la cima de la montaña  estarían más cerca, que podrían verla la noche entera, pero aún así  no alcanzarían a tocarla.
Fue entonces, en algún momento que nadie sabría  precisar, que empezaron a nacer rumores sobre la existencia de otra  gran perla escondida  en la selva, en un claro  mágico donde había un pequeño lago. Y la gente de lo alto de la montaña se acercaba al precipicio para verla brillar en la selva, mucho más abajo.
Fue así que a los poquitos algunos buscaron descubrir el camino hasta ese claro en la selva, donde había una pequeña laguna con una perla bastante menor, pero que podía ser alcanzada.
Podía verse en los ojos de quien se adentraba al bosque así tan profundamente, una especie de reverencia creciente que ya decía todo, y que iba aumentando  con la comprensión de que ese lugar, donde se acercaban, era sagrado.
Y en la entrada de ese claro, ante aquel rayo de luz cruda donde oscilaban sugestiones de todos tipos, cintilando ora en brillos de estrellas, ora en polvo de hadas, miraban arriba y lo veían rasgar la penumbra verde-hoja del lugar y caer precisamente sobre la pequeña laguna de aguas transparentes, revelándose, enorme y  enigmática sobre la arena alba del fondo, una magnífica perla en reposo.
Tal vez no hubiese en ningún otro lugar una luz así, que tan bien revelase  la perfección de aquella perla singular, evidenciada de una forma tal, y con tal pureza que todo lo demás pasaba a un segundo plano, como si fuera apenas para acolchonar como en un estuche, el lugar donde ella se exhibía en su fantástico reposo.
Era enorme y única, y allí estaba, apenas, sobre la arena muy fina y pura del fondo del pequeño lago, cuyas aguas frías nada jamás parecía perturbar. No había viento u hojas errantes, o polvo buscando otros caminos, o siquiera un pequeño animal sediento… Nada jamás hacía estremecer  su superficie, o disminuir a su transparencia.
El lugar era antiguo y lleno de leyendas, y pocos eran los que podían alcanzarlo, mismo entre aquellos que se disponían a caminar  largas horas por la floresta muy densa, intentando seguir sendas prácticamente invisibles.
Pero igual en el camino, mirando alrededor, era posible ir descubriendo vestigios de la presencia de otros. La vegetación ganaba una tonalidad de verde un poco más dorado y discreta, escondía  pequeños objetos  un poco por todas partes.
Ahí estaban potes de barro con tapa, muy ornamentados. Platos con lo que parecían ser restos de ofrendas, pequeñas cajas y más allá, una pequeña flauta de hueso. Pequeños candiles de aceite, ahora apagados. Unas pocas moneditas por todos lados, y varias joyas sencillas, algunas de ellas claramente muy antiguas.
Contaban que, en las noches más oscuras, no cambiava aquel mismo brillo especial, y que todo el claro seguia iluminado por la gran perla que reposaba en el pequeño lago, pero eso nadie podía  garantizarlo. También se decía que ese brillo aparecía en los ojos de aquellos destinados a conocer la perla, en el lago, y que era el mismo  que se puede ver en los ojos de los enamorados, cuando se creen solos y se quedan absortos, pensando en la persona amada. No sé.
Sé que mientras platicábamos, el viejo pescador de perlas, muy pobre, aún estaba abriendo  algunas ostras con su cuchillo de hoja corta, de cuclillas en su barquito junto al mío, en ese final de tarde que ya corría hacia la noche, mientras me contaba estas viejas historias.
Me decía que las había escuchado por primera vez del padre de su abuelito. Hablaba  despacito y sus ojos frecuentemente miraban la tierra. No al cielo, como esperaba yo, sino hacia un punto en medio de la selva junto a la base de la montaña.  Por intuición, miré también y alcancé a ver algo que no llegó a ser exactamente un brillo, y que duró apenas un momentito. Asimismo, fue suficiente para detenerme en lo que le preguntaba, y él lo sintió.
-También lo viste, ahora mismo, ¿verdad?- y su risa desdentada era cómplice y no permitía negativas. -  Cuando se mira  de lo alto de la montaña para abajo, también se puede ver a veces, por en medio de los árboles.  Y es una perla grande, te lo puedo decir sin dudas… Una vez  subí arriba  para nunca más tener dudas… Sí… es grande !!!
Sorprendido, todo que alcancé a hacer fue interrogarlo más.
-Entonces, ¿es verdad todo lo que dicen? pregunté mirándolo a la cara. El viejo,  mirándome también, sonreía siempre mientras me contestaba. Mientras hablábamos el día ya se fuera y se instalaba la  noche. Su sonrisa era ahora más ancha, y en sus ojos, dos brillos como perlas de luz me miraban intensamente.
-Hijo, yo no soy más que un viejo ignorante que pesca perlas… Escogí no vivir arriba en la montaña porque no soportaba  ver la más grande de todas las perlas tan cerca de mí y, aún así, no poder alcanzarla. Y tampoco escogí vivir en uno de esos pueblitos al pie de la montaña. No…No quise vivir caminando por la selva, corriendo en busca de un brillo por caminos que  la propia naturaleza va cambiando de lugar, y donde muchos hombres ya se perdieron para siempre. No…
El viejo hizo una pequeña pausa sin hablar nada. Después, emocionado, retomó lo que decía:
- Por eso vivo allá, en mi cabañita en la playa, y aquí en este barquito sobre la mar. Y así tengo las tres perlas al mismo tiempo:  Tengo aquella gigante, arriba, que la montaña esconde pasado un tiempo, cuando la miras mucho. Tengo aquella otra, que la selva abriga dentro de aquel lago, y que a veces brilla como una sonrisa en medio de lo oscuro de la selva – como lo viste también, hace poquito, no ??? Y tengo estas pequeñitas  así – mostró una acercando la mano – que las ostras me van regalando una a la vez, y que, para mí, no valen casi nada…


Revisado por Connie Ureña C.



3 comentários:

  1. Maravilhoso tesouro, Henrique Mendes, composto de três pérolas de brilho límpido e este conto como embalagem...Parabéns!

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  2. Que conto encantador.Continue,Henrique.

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  3. Dorothy Carvalho16/5/15 2:23 AM

    Que mavioso e enluarado. Da tua genial sensibilidade que tanto admiro Henrique Mendes! Parabéns pela Pérola belíssima que é o teu conto! Abraços

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