Que nosso canto se erga sempre, e
por límpidas causas !
Criámos, ao longo do tempo, algo
a que pretenciosamente chamamos civilização. Dito assim, parece até coisa
fácil, e sabemos que não foi. Demorou. Teve altos e baixos e, como sempre
acontece, prevaleceu a visão dos mais fortes. Não necessáriamente dos melhores,
ou dos mais justos, mas a dos que triunfaram.
Por isso, aquilo que a História
nos conta, é quase sempre a história dos que ganharam voz. Raramente a dos
silenciados, mesmo que sobreviventes. Na cultura, não poderia ser diferente.
Nesta data, e pela primeira vez, faço como se fosse uma
licenciosidade poética associada à data, uma sentida homenagem a todos aqueles cujo valor inestimável se perdeu na voragem das conquistas
que o ser humano, com a justificativa de re-escrever permanentemente sua própria
História, tem vindo arbitráriamente a impor ao seu semelhante.
Celebro, assim, não apenas a Poesia
e os Poetas mas, acima de tudo, celebro o Espírito Poético que nos iguala e
irmana na busca pelo belo, dando origem a todas as artes, não importando como
se manifestem ou ganhem expressão e influência na vida de todos nós.
E cabe nesta exaltação dos valores reais, não apenas mediáticos, uma
palavra de ponderação sobre o triunfo de alguns, tornados em quase-deuses e investidos de poder pelas massas anónimas,
sensíveis desde sempre a rótulos e a historinhas de encantar:
- A maior conquista da Humanidade, como um todo, não é a sua cultura, mas a capacidade de perpetuar o conhecimento adquirido, e de preservá-lo, bem como à sua capacidade de pensar. A isso, uma vez feito, chama-se memória de um povo.
- A maior conquista da Humanidade, como um todo, não é a sua cultura, mas a capacidade de perpetuar o conhecimento adquirido, e de preservá-lo, bem como à sua capacidade de pensar. A isso, uma vez feito, chama-se memória de um povo.
Nesta época conturbada, usando a
memória e os fácilmente comprováveis recursos da História, recordemos: Todos os grandes regimes, mesmo as ditaduras,
ou principalmente elas, não nasceram de um passe de mágica, mas sim com um
forte apoio popular. Nasceram de gente falando bonito, e sempre em nome de um povo que se encantou. E que, encantado, ergueu seus braços e suas vozes aos milhões, em conjunto, dando o seu aval e tornando legítimas algumas passagens da História. E algumas dessas passagens protagonizaram horrores que, até hoje, há quem batalhe por
desmentir. A algumas dessas passagens da História, só lhes faltou quem protagonizasse esses horrores às claras, assumidamente.
Em nome dos valores mais diversos, como honra, dinheiro, poder, pátria, política, justiça, e até de Deus, já matámos
e já morremos aos milhões. Já condenámos outros tantos ao sofrimento torpe e indigno da
fome, da sede e da ignorância. Já esgotámos o planeta ! E sempre encontrámos
nos outros as desculpas e as justificativas para tudo isso.
Eu celebro aqueles de entre
esses, que foram os conquistados. Alguns que não chegaram a ser, e de quem não se fala. E, neste Dia da Poesia, pergunto-me como seriam os seus versos. Se teriam a ligeireza dos nossos, e a
efemeridade do que se lê por aí…
Foto: Mural Palacio Nabucodonosor/British Museum/London 2012/ Henrique Mendes
Foto: Mural Palacio Nabucodonosor/British Museum/London 2012/ Henrique Mendes
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