Deveria a flauta ter-me dito,
ou então cântico vindo da terra,
(Géia lasciva, lúbrico agito,
vozes no sangue, frémitos de guerra...),
que nesse inexcedível por de sol
morre uma eternidade singela.
Canto, nota insustentável, bemol.
Melodia única sempre bela.
Frase silente de feliz efeito,
dedos cercando a nota perfeita,
bisel traduzindo um do de peito
TONS E SONS – MÚSICA
ResponderExcluirA postos címbalos, fagotes e cordas,
harpas, trombones e metálicos afins.
O maestro ensaia, afina leves acordes
e solta a música com um golpe de rins.
Opus em sol maior, entram os clarins!
E o piano responde com um lamento.
Doce, quase adormece os querubins,
que protagonizam o segundo andamento.
A clave é de sol. É um sol nascente:
música, música, o som é urgente
e o barítono, grave, irrompe fascinante.
Os anjos fazem o coro pueril e quente
(de um imperceptível azul envolvente)
e deixam fluir em sol a melodia andante.
(Sobre um óleo de Luis Silveira com o mesmo título)
Abraço
João
Um soneto que se insere na tradição musical de obras inacabadas. Belo texto, Henrique, sonoro!
ResponderExcluirComo os grandes mestres, Tchaikovsky, Schubert, Beethoven e outros que deixaram sinfonias inacabadas, seu belíssimo soneto deixa no ar o gosto desconhecido da nota musical não ouvida, que culminaria na chave de ouro.
ResponderExcluirGostei imensamente da construção deste soneto, meu querido amigo poeta.
Uma abraço,
Celêdian
Tons com verbos,verdadeira sinestesia a nos aguçar o sentir melodico quiçá poético,enorme é tua perspicácia e talento a nos fazer crer que este soneto definitivamente não precisa de dó,mas sim,de eternos bravos,bravíssimo!
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