Deve haver
um nome para isso,
ou mesmo um
sentido mais profundo.
Talvez seja
apenas o de uma vibração
que ocorre de
todas as vezes que a sentimos,
como um
fenómeno mais concreto e físico,
ou pode ser
algo que valha apenas pelo que vale,
e não seja
mais que um espaço único, nosso,
entre as
coisas obrigatórias espalhadas
pelo
horizonte da nossa manhã.
Talvez seja
um interstício óbvio entre todas as coisas.
Um reservado
discreto, por trás de uma ténue cortina de tempo,
absolutamente privado e completamente ao nosso dispor,
absolutamente privado e completamente ao nosso dispor,
escondido
dos relógios e das lógicas dos detalhes
conversados,
das minúcias
dos acordos e das convenções, e que está logo ali.
Ali, onde
sempre espraiamos os olhos, sem pensar,
seja nos
rostos dos outros ou naquela paisagem que já nem vemos.
Ali, onde
cada cor grita mais cores, todos os dias, sempre.
Deve haver
um nome para isso, essa permanência de atenção,
essa disponibilidade
para um foco de espírito
com que nos
assinamos lendo o mundo em todos os momentos,
interpretando,
e que nos faz presentes sendo parte, estando.
Deve haver
um nome para isso, mesmo que na paisagem conhecida
as palavras
não soem, nem o vento lhes transporte jamais
o som,
ou as nuvens lhes
tracem jamais os risos brancos no azul imenso.
Deve haver,
e difícil não será sabê-lo.
Difícil será
admitir que existe.
( Poema e foto de Henrique Mendes )
( Poema e foto de Henrique Mendes )
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