7 de set. de 2014

100 - SOMANDO INSTANTES




Já cantei momentos únicos.
Preciosos, entre os instantes.
Dei voz às ruas de cidades só minhas
que tantas vezes abracei
com olhos de amante.
Adentrei-lhes sombras e recônditos,
amei-as em nichos e alcovas,
perdido nos encantamentos
surreais das suas madrugadas.
Conheço-lhes os outros instantes,
o cansaço antecipado de quem vai
e ainda tem pela frente o dia inteiro.
E depois a volta, anoitecendo.
Presenciei alguns dos seus segredos,
surpresas, coisas de às vezes…
Escutei-lhes tantas memórias,
em longos instantes de silêncio,
que me fizeram guardião
de muitos dos seus ecos…

Trago na ponta da língua
mil dos seus sabores e segredos…
Histórias de chegada e de partida.
Gestos acontecidos de improviso
na improbabilidade do impensável,
e fantásticos fulgores de acaso.
Escutei-as ciciar baixinho
os seus medos e vontades
de cidades apenas, sem tempo,
também elas feitas dos instantes
que, somados, são esse mundo
que me faz a mim de instantes.
Somados…

Cada um deles precioso,
e mil vezes relembrado.
Dos quais não me separo,
nem me ausento ou dispenso,
e que compõem essa voz
lenta, simples, já longa,
com que canto a minha vida
em palavras como momentos…

Pequenos mundos de palavras
nascendo e separando-se de mim.

Instantes de um instante…


(foto: H.Mendes  )

Um comentário:

  1. Dorothysantoscarvalho26/6/15 10:10 PM

    Um poema belo, de quem sorveu os instantes!! Fotografia magnífica, pois é a fotografia, outra forma de poesia!! Abraços Poeta amigo!!

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