Ontem fiz o que raramente faço. Cedemos a um petisco que ambos gostamos e, para comê-lo, jantámos, minha mulher e eu, na praça de alimentação dum shopping aqui perto de casa.
Observei que parecia haver mais crianças que o habitual, empurradas nos seus carrinhos por suas dedicadas mamãs e papás, mas acabei conjecturando que talvez fosse apenas porque as crianças hoje são muito mais visíveis. Visíveis, sim !
Os carrinhos são prodígios tecnológicos, com pneus capazes de encarar qualquer rallye pelos matos da capital, que fazem os papás estugarem o passo - talvez na procura inconsciente de se enquadrarem no sucesso daquele look mais desportivo dos seus pimpolhos. E as roupas, tal como os acessórios, no mínimo são condizentes e lindas.
Foi neste contexto que vimos chegar no seu carrinho quase espacial uma criaturinha linda, empurrado apenas pelo papá, até encalhar na mesa a nosso lado. Rápidamente, com meia dúzia de pequenas adequações, o carrinho aumentou de altura permitindo que o garoto ficasse na posição certa para usar a mesa, apesar do cinto de segurança e demais dispositivos destinados a prevenir quedas e fugas.
Pudemos assim ficar maravilhados com as roupinhas que usava com o ar mais natural do mundo: calças jeans azuis, com um cinto a condizer, e um polo vermelho intenso igual ao meu que lhe deixava de fora os bracinhos gorduchos. Reparámos que usava nos pézinhos uns sapatitos casuais de vela, tipo dockside. Por fim, ficamos definitivamente encantados quando olhou para nós e tirou, num gesto singelo de quem está muito acostumado a fazê-lo, os óculos de sol, revelando um olhar intenso, esperto e azulíssimo. Que menino fantástico!
Daí para a frente, fomos saltando de surpresa em surpresa. Mamãe chegou com comida e rápidamente foi colocando ao alcance dele uma caixinha de cartão com batatas fritas. E outra com umas pepitas de frango frito, além de um saquinho com umas tirinhas de cereais fritos, também, e um copo de um refrigerante inespecífico, com um canudinho.
O garoto, comportadíssimo e alheio a tudo o que o rodeava, ia comendo de tudo com uma mão, enquanto mexia com a outra no telefone do papá, onde acontecia um joguinho electrónico qualquer, com uma musiquinha daquelas que só as crianças aguentam. Os pais não trocavam uma palavra entre si, dividindo os interesses entre a criaturinha e a sua própria comida.
Havia algo de vagamente insólito em tudo aquilo, que aos poucos nos ia roubando o sorriso, mas acabámos entendendo quando, mais tarde e já em casa, soubemos pela internet que era Dia da Criança.
Lembro-me que remeti um pensamento em direcção a esse menino, já tão lançado na senda dos homens normais, dando-lhe os parabéns e desejando-lhe uma vida feliz.
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