15 de jun. de 2016

130 - ADEUS KATHLEEN LESSA




Os Poetas não cantam o que são. Nem são o que cantam. Por isso não partem nem ficam, apenas estão.

Rodeiam-nos por toda a parte. Estão em alguns tipos de sorriso efémero. No amanhecer de alguns dias, ou nas gotas de água sobre alguma pétala duma hipotética flor. Ou talvez na emoção que se ocultava nas neblinas de um momento vago. Eles são qualquer uma dessas coisas, ou outra, em todos os matizes que a vida tem.

Num repente se incendeiam e brilham intensamente, revelando-se, e levando longe a  beleza mágica do seu canto, como uma luz dourada que vai aos poucos  inundando os recantos ermos do que era apenas monotonia e silêncio. E depois remetem-se outra vez à paz da sua quietude.

Então a escuridão parece agigantar-se sobre todas as coisas. E o mundo retoma, devagarinho, a História que se vai escrevendo entre Poetas.



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13 de jun. de 2016

129 - VERSOS À NOITE, SEM MEDO




Se às vezes disse à noite que chegava o dia
foi sem tristeza nem medo, nem nada assim.
Era apenas outro momento chegando ao fim,
um instante nascendo d'outro que se cumpria.

E se aos segredos das noites contei segredos,
meus, coisas que iam sobrando dos meus dias,
algumas escritas soltas, prosas várias, poesias,
eram prazeres em que divagava, não medos…

Já para os dias ficava trazendo, em sentido inverso
memórias das vielas e fados, da lua e das estrelas,
outros instantes. Memórias subtis que, para tê-las,
tornei  mais errante o passo e mais solto o verso.

Então, fui  somando tudo isso que agora sou.
Tudo o que me foi dando  essa forma de olhar,
que é de Poeta, às vezes, ou apenas um captar
de fadigas, uma passagem para onde não estou.

E quando um dia vier uma outra noite, escura,
donde não colha memórias, nas ruas da cidade,
tentarei  iluminá-la com estas histórias da idade,
até enchê-la de instantes, para ver quanto dura…


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